30.11.11

TRIO AZUL, RUVINA & CENOURA live no PORTO

O regresso do trio AZUL, RUVINA & CENOURA num novo espaço: o ANÉMONA, na Travessa de Cedofeita, 62, no Porto, a 7 dezembro 2011.

O concerto será dividido em 3 sets: às 23:00h, às 24:00h e à 1:00h.
Estes iniciar-se-ão rigorosamente às horas indicadas, dado ser uma 4ª feira, possibilitando assim aos apreciadores poderem assistir ao Soul-Jazz do trio
sem sacrificar horas de sono essenciais à sua actividade profissional durante a semana.
O trio é composto por Rui Azul - sax tenor, Luis Ruvina - orgão Hammond B3 e Rui Cenoura Ferraz - bateria.
Aqui fica o convite para a vossa presença e participação no 'groove' anti-stressante da música, que inclui versões próprias de temas de Jimmy Smith, Horace Silver, Mingus, Rollins, Miles, Zawinul, Beatles, S. Wonder, e alguns original do trio.

27.1.10

Novo site - Rui Azul

À laia de informação (incluindo um pedido das devidas desculpas por uma certa 'quasi'-propanganda promocional - não sendo esta, no entanto, encarada, na área do show-bizz, como despropositada ou descabida, mas antes como fazendo parte do processo de divulgação artística perfeitamente habitual e recorrente...), aqui fica o link ou hiperligação para um novo site que reúne, pela primeira vez, num só endereço on-line, múltipla documentação multimedia.

Assim, desde ficheiros audio e video, a fotos e recortes de imprensa, é possível ouvir, visionar, ler e obter informação que irá sendo regularmente actualizada, sobre a bio, discografia, críticas e referências, excertos de filmagens de concertos dos diferentes projectos (via youtube), fotografias de músicos e bandas passadas e presentes, desde finais dos anos 70 até à actualidade.

Também parte do trabalho gráfico, seja de ilustração, cartoon, BD ou pintura e desenho, está referenciada e acessível, assim como a possibilidade de comentar, enviar mensagens ou aceder a outras páginas, com outros conteúdos e protagonistas.

Todas as páginas estão equipadas de um leitor audio interactivo, e a animação dos elementos não foi esquecida.

Aguarda-se a vossa visita, para a qual estão desde já convidados.
Do mesmo modo, 'gerência' também agradece, encoraja e valoriza desde já a vossa opinião expressa.
Welcome, have fun & a great time.

http://www.wix.com/RuiAzul/RUI-AZUL



5.12.09

JAZZ thing - from 'MO BETTER BLUES'

Um video dos Gang Starr que integra passagens melódicas de Jazz (sampladas ou não), e que faz uma síntese e apologia da grandeza e importância do Jazz na cultura americana (e mundial). São raras estas fusões de Hip-Hop com Jazz, e penso que vale a pena chamar a atenção para elas. Esta em particular relaciona-se com o filme "MO BETTER BLUES", de Spike Lee, com Denzel Washington no papel de um trompetista de Jazz.

22.10.09

Breve História do Jazz por Jorge Lima Barreto

O jazz como afirmada tipologia musical do Século XX deve ser considerado não apenas um fluxo independente mas antes síntese e incorporação de inúmeros géneros, movimentos e, sobretudo, paradigmas musicais.
Os blues são o rizoma do jazz, pela idiomática, nas suas harmonias transversais e insólitas e, psiquicamente, nos valores sentimentais; o jazz, paralelamente ao gospel, aos espirituais, nasceu como uma tipologia do cancioneiro negroamericano, que é a sua raiz; apropriação da notação europeia, com gradações emocionais da textura tímbrica; formalismo que evoluiu do ragtime, de ritmo desgarrado e sincopado, do boogie woogie, percussivo e cadenciado e, do estilo burilado do stride (2 - The Lyon Smith). Delta de aculturações, padronizou conjuntos instrumentais, congeminou harmonias e dissonâncias específicas, implantou um regime pulsional empolgante num fluxo epigonal dito mainstream (1- Hawkins).
O jazz absorveu para a sua própria gramatologia inumeráveis enredos da música de massas mundial (ritmo, estrutura, semântica da canção, instrumentação, e.a.); galeria de executantes virtuosos, prodigalizou melodias,; também uma vertente do entretenimento e da música popular de dança, logo foi propalado pela rádio e pelo disco e conheceu várias etapas no seu processo histórico:
O jazz clássico foi inaugurado pelo estilo New Orleans, com texturas polifónicas, subministradas por ritmos fortemente acentuados e simétricos; no swing, pulsação taquigráfica (4 - Peterson), break, canto onomatopaico e rimado, foi marcado pelo apogeu da big band, grande orquestra (3 - Ellington/ Basie), que normalmente dispensava o sinfonismo das cordas.
Logo a seguir ao fim da II Grande Guerra, surgiu o be bop, projecto intelectual do jazz moderno, expressionista, jogo de acordes, ritmo dialéctico (6 - Monk); escola similar foi o cool, integracionista ,de humor melancólico, poético, a balada como forma dominante (7 - O´Day); houve estilos disjuntivos do bop como o west coast, de tintagens tropicais e cinemáticas (9 - Brubeck); o progressive, experimentando técnicas superiores de composição e arranjo; a third stream, fusão morfológica e estrutural do jazz com músicas clássicas (8- Modern Jazz Quartet).
O hard bop ou funky adjectivou o bop com enredos místicos dos blues, do gospel, da soul, (5 - Ray Charles) discurso palimpsesto com síncopes incisivas, um regresso metonímico à tradição religiosa, reivindicação etnocultural (10 - Kirk)).
O modalismo, isto é, a adopção de escalas exóticas (13 – Miles Davis), caracterizou o jazz das décadas seguintes, com notáveis texturas tímbricas e suplementado de insinuantes invenções rítmicas (15 - Lloyd) .
No início dos anos 1960 aconteceu a rotura do jazz contemporâneo perpetrada pelo free jazz, cacofonia, grito, sismografia; modos extravagantes (11 - Mingus), fluxo do delírio à deriva de ritmos assimétricos (12 - Moncur III), contestação sociocultural e política .
No jazz rock coabitaram duas linguagens implantadas sobre a vivacidade dos ritmos binários e complementadas pela panóplia electrónica (14 - G. Burton).
Desde o último quartel do século XX detectou-se a corrente revisionista do neomodernismo, devotada ao tema standard, escolaridade na era do computador, involução irrevogável do academismo, generalização rebarbativa nos limites do branqueamento do jazz.
O jazz disseminou-se em todo o planeta e, uma frente vanguardista e diaspórica, na pósmodernidade, tem proposto o estilo múltiplo e poliscópico, renovação enérgica da linguagem instrumental (16 - P.Bley), encantatória e permanente deste discurso vívido (18 -J. Coltrane).
O jazz é avatar do experimentalismo e do conceito de obra aberta; intuição do instante, constelação de compositores-intérpretes (19 - Jenkins); passarela de instrumentistas excepcionais, construtores do bizarro, virtuosos do epigrama (17 - Cherry); emancipou-se como música/ performarte, concebeu um espaço autónomo e atípico da vertente solística e/ou colectiva, com técnicas audaciosas e conceptualizações esquisitas (20 - Haden/ C.Bley); hoje é uma formidável formulação musical na pósmodernidade.
Afinal o jazz advém da cultura migratória e multirracial, é partitura real dum folclore imaginário.

JORGE LIMA BARRETO

20.7.09

LEONARDO DESCONHECIDO

Leonardo da Vinci foi um dos maiores desenhadores, pintores, inventores, criativos, engenheiros, enfim, um génio artista possuindo um QI e uma imaginação criativa que duvido tenham sido alcançadas, quanto mais ultrapassadas...


Ainda bem que esteve sob a protecção de vários senhores e governantes feudais, pois se fora "freelancer", como Galileu Galilei, por exemplo, possivelmente não teria chegado a idade tão avançada, pois em 1500 qualquer coisa que desafiasse o convencional era considerada herética e o seu autor esquartejado, decapitado, queimado vivo ou lançado aos leões... ( mmm... esta última talvez não, isso era mais moda no Império Romano, alguns séculos antes e não nas Repúblicas Venezianas do século XVI ).

Por volta de 1500 Vasco da Gama conseguira navegar até à Índia, Colombo rumara na direcção oposta e achara ter também chegado à Índia, só que os índios eram outros (Sioux, Apaches, Comanches, Iroqueses,...), Lisboa era a cidade mais rica da Europa, Portugal e Espanha dividiram o mundo entre si em Tordesilhas, sob a bênção do Papa. Michelângelo acabara a Pietá e fora contratado para viver mais de 6 meses sem descer dos andaimes que mandara instalar a meio metro do tecto para, deitado de costas, pintar os tectos da Capella Sixtina. Maquiavel, Erasmo de Roterdão, Martinho Lutero destacavam-se na política, filosofia e teologia.

Guttenberg soltara um palavrão quando entalou o dedo na prensa que inventara, para se passar a poder editar livros rapidamente, imprimindo exemplares perfeitamente idênticos entre si, enquanto Henrique VIII já "despachara" duas das suas 6 mulheres.

Fernão de Magalhães, que para mim (e para muitos outros portugueses, decerto), foi o nosso mais ilustre navegador, porque foi movido pela ciência, cartografia, geografia e sede de conhecimento (ao invés da quase totalidade dos outros, apenas buscando o lucro fácil através do saque, subjugação, escravatura, e outras práticas menos "civilizadas"), foi o primeiro a fazer a circum-navegação do Globo, encontrando a passagem para o Pacífico nos estreitos da Terra do Fogo ( extremo austral da América do Sul ), assim como a sua morte, devido a um mal-entendido com os nativos.

Depois deste "plano geral" da época, queria lembrar que Da Vinci não pintou só a Gioconda (Mona Lisa) e a Última Ceia de Cristo, mas foi o inventor da BICICLETA (fig. 1), do PÁRA-QUEDAS (fig. 2),
do SUBMARINO, do TANQUE de GUERRA, do ULTRA-LEVE (fig. 3),
da BIELA - MANIVELA, da RODA DENTADA e ENGRENAGENS (fig. ), dos ROLAMENTOS de ESFERAS (fig. ), do BARCO de PÁS (fig. ), do CARRINHO de MÃO SEMI-AUTOMÁTICO, de ENGENHOS BALÍSTICOS de vária ordem, e... do AUTOMÓVEL (fig. ). !!!!!!

Podem ler de novo. Eu espero.

Como sou músico, e porque é precisamente esta a faceta do Mestre dos Mestres mais desconhecida, é esta a razão principal para este artigo que escrevi e aqui publico: Leonardo também era Músico! E, como não poderia deixar de ser, inventou vários instrumentos e adaptou mecanicamente outros!
Três exemplos:
1 - Aquilo que designamos por "CAIXA de RITMOS", teve origem ( na vertente mecânica, claro, pois a electricidade apenas chegaria uns séculos mais tarde... ) no seu TAMBOR AUTOMÁTICO (fig. ).

2 - Os teclados portáteis, sintetizadores, pianos digitais, ou aquele teclado de pendurar ao pescoço tipo guitarra, que o Herbie Hancock usava nos 70's e 80's para se levantar do piano de cauda e interagir no palco junto dos guitarristas, baixistas e sopros, fazendo solos de pé ( ou dançando... ), tiveram o seu tetra-tetra-tetra avô na sua PIANOLA AMBULANTE (fig. ).

3 - A LIRA que inventou, é que me deixou deveras perplexo. Não só pelo facto de parecer a cabeça de um habitante de Procyon-5, ou algo saído da Industrial Light & Magic, para um filme da saga Star Wars, mas porque não descortino as cordas, não vejo caixa de ressonância, afinadores, nem quero saber como se pegava naquilo para tocar... brrrrrr...e não morde?



Bem, numa banda de trash-heavy-hard-metal-depressive-post-punk-rock-gunge-F..kDaNotesDaScalesDaTempo&DaMusic&Ourselves, se calhar os fans delirariam... (figs. ).






Para além de outras invenções destinadas às artes de palco, contam-se também PALCOS GIRATÓRIOS e/ou ELEVATÓRIOS, entre uma miríade de esboços que deixou, muitos dos quais ainda em estudo e por decifrar tanto o engenho em si, como a sua função...



Ou era alienígena ou um mutante, o fabuloso LEONARDO DA VINCI !

11.6.09

5 Ladiesingers no novo disco


MARIA VIANA
DIANA BASTO

FATUCHA LEITE

MARTA REN
DANIELA MAIA serão as intérpretes dos temas cantados do novo disco de RUI AZUL, "RITMOS EM BLUES", que conta ainda com a participação de outra cantora ( e pianista ), HELENA CASPURRO.

2.6.09

12.5.09

Gravações de novo disco de Rui Azul iniciam-se em Julho

Em Julho iniciam-se as primeiras sessões de estúdio para o novo disco de Rui Azul, "RITMOS EM BLUES - e outros tons de azul", num estúdio "downtown" da cidade do Porto.
Este 3º disco do saxofonista marca a passagem de 3 décadas de carreira musical, seguindo-se a "PRESSÕES DIGITAIS", de 1991, que contou com as colaborações de Vitor Rua, na co-produção, co-autoria de alguns temas, guitarras e baixo, Pedro Taveira, na bateria, Rui Júnior e KimNeh nas percussões, e Horácio em santoor, e ao cd "À BOLINA" de 2005, no qual Rui Azul tocou todos os instrumentos, produziu e foi o autor das composições e de todo o design gráfico da capa e booklet, que inclui uma banda desenhada original que esteve exposta na edição de 2004 da Bienal de Vila Nova de Cerveira.
Este novo álbum terá a particularidade de integrar pela primeira vez temas cantados, contrariamente aos álbuns anteriores, totalmente instrumentais (exceptuando "A Família E O Esturjão", de "À Bolina", no qual o músico cita um poema de Mário-Henrique Leiria, dos "Contos do Gin-Tonic"), assim como temas de Horace Silver, Charlie Mingus, Lester Young, Cannonball Adderley, Otis Redding, Joe Zawinul, Bobby Timmons, Eddie Harris, além de alguns originais do saxofonista português.
Contará ainda com a participação de algumas vozes femininas conhecidas do meio jazzístico português, bem como de um número assinalável de cotados músicos de Jazz da cena actual nacional, bem como de alguns outros ligados aos Blues e às Novas Músicas Improvisadas.

21.11.08

Azul, Ferro & Cenoura ao vivo em Guimarães - Bud's Blues (Bud Powell)


O Registos Autónomos esteve ausente uns meses por várias razões, de ordem pessoal, logística e mesmo... informática. Aqui fica um pedido de desculpas para os que nos visitavam regularmente, e a promessa de publicações regulares, a partir desta data.

21.11.07

MENDRIX BAR

Fabuloso! A vida não pára de nos surpreender, ou a realidade suplante SEMPRE a mais imaginativa das ficções!!! E ainda bem que assim é, para gáudio de todos nós.
Se me dissessem que um dia o meu amigo de há quase 30 anos, Filipe Mendes, espantoso guitarrista, músico, compositor, solista, letrista, one-of-a-kind, e mais conhecido nos latest years, pela sua colaboração com os Ena Pá 2000, por Phil Mendrix, haveria de abrir um bar-concerto, eu achava que...mmmmmmmm.....não, o Phil não, não o vejo no papel de bartender...
Mas... aí está como nos enganamos redonda, quadrada e piramidalmente!!!!

Ainda tenho gravações em duo com ele, a tocarmos, imaginem, temas como o "Nature Boy", "Fever", entre outras, e se lhes contar que ele já integrou o Azul Index, e tocou, live, temas de McCoy Tyner, Sonny Rollins, Miles Davis? Puro Jazz!! E nos anos 80, com o 4teto Transatlântico, tocamos no Hot Club com um "pedal" tremendo, de tal forma que a gerência da altura confessou-nos que só tinham assistido a um concerto com uma "garra" semelhante, na história daquela sala da Pr. da Alegria, e fora com a banda do Phillipe Catherine (deve ser dos Phil's...).
Bom, aqui ficam as felicitações e desejos de longa vida para o Mendrix Bar e, claro está, para o seu lendário proprietário, um dos maiores músicos com quem tive a honra de tocar...
That's my Man! http://mendrixbar.blogspot.com/

1.7.07

RAÍZES MUSICAIS PORTUGUESAS NO SAMBÃO E NAS MARCHAS AMERICANAS




A importância de dois portugueses no desenvolvimento de algumas tipologias musicais importantes, na musicologia da humanidade.



JOSÉ PEREIRA




Todos os Portugueses conhecem, decerto, os tocadores de bombos, que são uma presença imprescindível nas festividades populares, tendo sido inclusivé retratados em alguns quadros do pintor portugês Malhoa. Normalmente aparecem associados aos Gigantones, que são personagens do imaginário Lusitano, e que são representados nas marchas e desfiles populares por um ou dois figurantes (montando um sobre as costas do outro - às "cavalitas" -como se diz em Português), e ostentando uma "cabeça" artificial, normalmente feita de pasta de papel, mas que também pode, em certos casos, ser esculpida em madeira, e que tem umas dimensões exageradas, e um "fácies" ou expressão algo diabólica, ou pelo menos algo louca.
Mas sobre este termo, Zés-Pereira, existe um vasto desconhecimento acerca da sua origem.





Quem foi José Pereira?
Segundo jornais e publicações da época entre os anos 15 e 20 do século XX, um tal de José Pereira, alfaiate de profissão, nascido no Minho, tocador de bombo (aqui nem bombeiro nem bombista servem como adjectivo) no grupo folclórico da sua terra natal, emigrante no Brasil, num belo dia de carnaval (provavelmente sob a influência da ingestão de "cachaça", dado que os portugueses são reconhecidos pela sua timidez e receio de exposição pública...), resolveu, influenciado também por alguma nostalgia ou saudade da região que o viu nascer, ir para a rua com o seu bombo, marcando nele uma figura rítmica bem portuguesa: o malhão.
A notícia assinala ainda que, dançando, várias pessoas se lhe foram juntando, e muitas delas ostentavam e faziam soar vários utensílios domésticos, desde testos de tachos a panelas, tocados com colheres de pau, a latas e recipientes diversos contendo desde feijão, grão de bico e arroz a sementes secas ou gravilha, para servir como maraca, afochê, xequere, ou outros tipos de instrumentos de percussão similares. Entre estas pessoas encontravam-se vários emigrantes e descendentes de antigos escravos africanos, mormente originários de Angola, onde existe um género musical étnico de nome semba, e à base rítmica de marcação do malhão que Zé Pereira executava, nos graves, acrescentaram a polirritmia africana, dobrando e desmultiplicando o ritmo base, com contatempos, acentuações, e outras figuras rítmicas africanas.



Esta é a primeira vez que existem registos de uma marcha popular (neste caso completamente espontânea) ter percorrido as ruas, durante o período do carnaval, numa localidade brasileira.
Estas notícias acabaram por chegar a Portugal, e os seus ecos resultaram numa designação popular e espontânea, que passou a referir-se e a designar qualquer tocador, não só de bombo, mas de um qualquer outro membrafone de percussão que fizesse parte de um rancho ou grupo musical folclórico (se não gostam do termo, de música étnica - folclórico vem de folk = povo).
Assim, malhão + semba = sambão, ou, uma palavra derivada, samba.
Deste modo, a música portuguesa está bem nas origens da música brasileira, que não parou de se desenvolver, e na qual podíamos também incluir a influência directa que o fandango do Ribatejo exerceu sobre o frevo Brasileiro.






















JOÃO FILIPE DE SOUSA




Um outro emigrante Português - neste caso filho de emigrantes - irá ter um papel preponderante na história da música popular do "novo mundo", como foi designado o continente americano durante alguns séculos, e desta vez na américa do norte. Neste caso, bem mais conhecido (e reconhecido), estamos na presença de um indivíduo que teve estudos musicais, tendo chegado a exercer profissionalmente, contrariamente ao caso de José Pereira, como regente, maestro e notabilizado compositor, e foi curiosamente, contemporâneo dele. John Phillip Souza, ou João Filipe de Sousa, é considerado, pela maioria do povo dos Estados Unidos da América, como o autor das marchas populares e composições que melhor encarnam a "alma" e o "espírito" americano. Não deixa de ser novamente curioso, se pensarmos que é um Português, e não um compositor com raízes Irlandesas, Inglesas, Francesas, nem qualquer outra origem europeia... Qualquer das suas criações são incontornáveis em qualquer parada, tatoo, circo, ou desfile que integre uma marching band, não só nos EUA, como em quase todo o mundo.
Mas o seu lugar na história e musicologia não se fica apenas por aqui, pois foi também o inventor de alguns instrumentos musicais, sendo o mais conhecido, e que transporta o seu nome, o Sousafone, que pertence à família dos metais (brass), e foi criado para reforçar (e substituir) o papel até aí desempenhado pela Tuba, que não detinha as características de intensidade no registo dos graves, necessárias para desempenhar eficazmente a emissão sonora das notas graves, nas condições acústicas existentes durante as marchas ao ar livre, nas ruas de uma cidade, por exemplo. Assim, aquele instrumento que dá umas voltas circundando o executante, antes de desembocar numa larga e circular campânula situada acima da sua cabeça, é o "souzaphone" de que falamos.
Deste modo, os Portugueses e a sua criação musical estão "gravemente" (tanto o bombo como o sousafone têm como função a marcação dos graves...) inseridos nas raízes de tipologias musicais bem populares e que não só estão na origem, como desempenharam um papel relevante para o desenvolvimento do samba, da bossa-nova, do ragtime e do jazz.








As nossas raízes culturais, e neste caso musicais, que são normalmente algo menosprezadas e ignoradas pelos Portugueses, merecem uma nova avaliação, 3 décadas passadas sobre a instauração da Democracia.
Existe um trabalho de divulgação e consciencialização a ser feito entre a população deste cantinho à beira mar plantado, que atravessa uma fase de uma certa quebra de auto-estima e descrédito acerca das suas potencialidades e papel na civilização humana. E, podem crer, nem sou propriamente o que se pode apelidar de um "patriota", mas penso que somos bem melhores do que este nosso povo de saudosistas e poetas se tem vindo, com o tempo, a convencer...




Rui Azul

31.3.07

Rui AZUL INDEX - História do Jazz - próximos concertos

HOT FIVE - terça, 24 Abril (ou segunda, 30 Abril) 23:45 h - Porto
HOT FIVE - quinta, 3 Maio (em duo - Alex Rodriguez + Rui Azul)
CONTAGIARTE - sexta, 4 Maio, 23:30 h - Porto
QUEIMÓDROMO - espaço CINE-JAZZ - sábado, 5 Maio, depois das 00:00 h - abertura da Queima das Fitas - Porto

30.3.07

Portugal Jazz - Festival Itinerante de Jazz



Foi apresentada oficialmente no CCB uma iniciativa extremamente louvável, estrategicamente pertinente nos seus conceitos e objectivos fundamentais, e fruto certamente de uma arguta e correcta perspectiva e visão alargada do estado de situação e desenvolvimento do Jazz no nosso país.

Já me pronunciei acerca do assunto, tanto aqui, como em outros sites e blogs, e era indispensável criar hábitos culturais em vários sectores da sociedade, nomeadamente entre os jovens urbanos e entre a população activa habitando fora dos grandes centros ou em zonas mais afastadas da faixa litoral. O JAZZ apresenta-se, pelas suas características de expressão musical universalista, pelo crescente número de praticantes, estudantes, festivais, e outros apontadores que cresceram em exponencial desde finais dos anos 90, em Portugal, como um dos produtos culturais com aptência inata para cumprir um papel relevante na criação e consolidação de novos públicos e na introdução e fixação dos tais hábitos de consumo regular de cultura entre os Portugueses, que, como já é habitual, apresentam dos mais baixos índices europeus de consumo de arte e cultura.

As razões são várias e entre elas está a ausência do ensino musical desde a escola primária; as taxas e impostos sobre os instrumentos musicais (ferramentas essenciais para se poder sobreviver como músico profissional...) equiparados a artigos de luxo; o IVA sobre os discos é superior ao que se aplica aos livros (porquê? um livro é cultura, um disco já não??); as playlists e desrespeito sobre a lei da percentagem de música portuguesa a passar na Rádio; o arcaico e estúpido conceito que os músicos estrangeiros são sempre melhores que os músicos nacionais, débil e insuficiente apreço pelos artistas "da casa" (tal como os santos, não fazem milagres? só existe excepção no caso dos jogadores de futebol, o que confirma a regra); a baixíssima auto-estima que grassa actualmente entre nós, e a que os baixos salários não são alheios, pois onde desencantar recursos para o bilhete do concerto, ou da entrada no clube de Jazz, se antes do final do mês o bolso já se esvaziou? - por outro lado, as discotecas e dance houses estão a abarrotar e reproduzem-se como baratas, e os disc-jockeys, vulgo dj's, ganham 5,6,10 vezes mais que os músicos - (gostaria que qualquer universitário pelo menos pudesse encaixar uma regra simples: de 3 em 3 noites de disco, 1 passava a ser destinada a: 1 concerto, ou 1 ida ao teatro, ou 1 visita a exposições de arte, ou mesmo 1 ida ao cinema, e, por favor, 1 ida a um clube de Jazz, ou café-concerto, ou música ao vivo... mas estou a sonhar acordado... ).

A iniciativa a que me refiro, ou seja, levar o Jazz, e preferencialmente, o Jazz praticado por músicos de Jazz Portugueses, que estão perfeitamente ao nível dos restantes europeus e americanos, (isto, dito pelos públicos e especialistas europeus e americanos, não se trata de auto-avaliação), a percorrer todos os municípios nacionais, com intuitos divulgativos, formativos, e criadores dos tais hábitos que acima descrevo. Não se confinando a uma edição, mas propondo uma periodicidade anual. Assim, várias zonas do país habitualmente arredadas de eventos jazzísticos, vários grupos e músicos portugueses de Jazz, terão ocasião de se encontrarem frente a frente, e, de um modo interactivo, partilharem aquilo que produzem e receberem aquilo de que carecem, porque o espírito também se alimenta, e fazer com que se ouça cada vez menos aqueles lamentos do tipo: - « Jazz? Hhhmmm... sabe, num sei se gosto... é que não percebo muito bem aquilo que eles estão práli a tocar, parece que tocam uns para cada lado... é..., não não gosto lá muito dessas músicas lá do Jazz, ou lá o que é.... », ou « Jazz? Ui, é muito chato, aquilo é só para intelectuais, é uma seca do caneco, para mim...»

Parafraseando Vasco Santana: - Jazzes há muitos, ó seu...

Por isso aplaudo a iniciativa, e estou disponível para explicar os diversos Jazzes, como acontece o diálogo entre os diversos instrumentos, enfim, quero ajudar a trazer para o Jazz mais apreciadores, plantar sementes de curiosidade e fomentar a abertura de espírito para passarem a perceber mais aquilo que ouvem. Na adolescência, só gostamos de bife com batatas fritas, o gosto evolui, mais tarde... ninguém gosta de cerveja ou de whisky da primeira vez que se prova... ninguém nasce ensinado...

Penso que os músicos têm responsabilidades, enquanto agentes socio-culturais, e algumas delas são o didatismo, a divulgação, a formação do gosto e da capacidade de fruição da Arte. Ou, se quiserem, empenharem-se em ensinar ou mostrar pistas para que cada vez haja mais pessoas a tirarem prazer através da audição de música tocada ao vivo. Jazz, neste caso.

Bravo pela iniciativa lançada, cujo logotipo encabeça este post, e que se chama PORTUGAL JAZZ - FESTIVAL ITINERANTE DE JAZZ.

mais info em:

http://www.portugaljazz.org/