1.7.07

RAÍZES MUSICAIS PORTUGUESAS NO SAMBÃO E NAS MARCHAS AMERICANAS




A importância de dois portugueses no desenvolvimento de algumas tipologias musicais importantes, na musicologia da humanidade.



JOSÉ PEREIRA




Todos os Portugueses conhecem, decerto, os tocadores de bombos, que são uma presença imprescindível nas festividades populares, tendo sido inclusivé retratados em alguns quadros do pintor portugês Malhoa. Normalmente aparecem associados aos Gigantones, que são personagens do imaginário Lusitano, e que são representados nas marchas e desfiles populares por um ou dois figurantes (montando um sobre as costas do outro - às "cavalitas" -como se diz em Português), e ostentando uma "cabeça" artificial, normalmente feita de pasta de papel, mas que também pode, em certos casos, ser esculpida em madeira, e que tem umas dimensões exageradas, e um "fácies" ou expressão algo diabólica, ou pelo menos algo louca.
Mas sobre este termo, Zés-Pereira, existe um vasto desconhecimento acerca da sua origem.





Quem foi José Pereira?
Segundo jornais e publicações da época entre os anos 15 e 20 do século XX, um tal de José Pereira, alfaiate de profissão, nascido no Minho, tocador de bombo (aqui nem bombeiro nem bombista servem como adjectivo) no grupo folclórico da sua terra natal, emigrante no Brasil, num belo dia de carnaval (provavelmente sob a influência da ingestão de "cachaça", dado que os portugueses são reconhecidos pela sua timidez e receio de exposição pública...), resolveu, influenciado também por alguma nostalgia ou saudade da região que o viu nascer, ir para a rua com o seu bombo, marcando nele uma figura rítmica bem portuguesa: o malhão.
A notícia assinala ainda que, dançando, várias pessoas se lhe foram juntando, e muitas delas ostentavam e faziam soar vários utensílios domésticos, desde testos de tachos a panelas, tocados com colheres de pau, a latas e recipientes diversos contendo desde feijão, grão de bico e arroz a sementes secas ou gravilha, para servir como maraca, afochê, xequere, ou outros tipos de instrumentos de percussão similares. Entre estas pessoas encontravam-se vários emigrantes e descendentes de antigos escravos africanos, mormente originários de Angola, onde existe um género musical étnico de nome semba, e à base rítmica de marcação do malhão que Zé Pereira executava, nos graves, acrescentaram a polirritmia africana, dobrando e desmultiplicando o ritmo base, com contatempos, acentuações, e outras figuras rítmicas africanas.



Esta é a primeira vez que existem registos de uma marcha popular (neste caso completamente espontânea) ter percorrido as ruas, durante o período do carnaval, numa localidade brasileira.
Estas notícias acabaram por chegar a Portugal, e os seus ecos resultaram numa designação popular e espontânea, que passou a referir-se e a designar qualquer tocador, não só de bombo, mas de um qualquer outro membrafone de percussão que fizesse parte de um rancho ou grupo musical folclórico (se não gostam do termo, de música étnica - folclórico vem de folk = povo).
Assim, malhão + semba = sambão, ou, uma palavra derivada, samba.
Deste modo, a música portuguesa está bem nas origens da música brasileira, que não parou de se desenvolver, e na qual podíamos também incluir a influência directa que o fandango do Ribatejo exerceu sobre o frevo Brasileiro.






















JOÃO FILIPE DE SOUSA




Um outro emigrante Português - neste caso filho de emigrantes - irá ter um papel preponderante na história da música popular do "novo mundo", como foi designado o continente americano durante alguns séculos, e desta vez na américa do norte. Neste caso, bem mais conhecido (e reconhecido), estamos na presença de um indivíduo que teve estudos musicais, tendo chegado a exercer profissionalmente, contrariamente ao caso de José Pereira, como regente, maestro e notabilizado compositor, e foi curiosamente, contemporâneo dele. John Phillip Souza, ou João Filipe de Sousa, é considerado, pela maioria do povo dos Estados Unidos da América, como o autor das marchas populares e composições que melhor encarnam a "alma" e o "espírito" americano. Não deixa de ser novamente curioso, se pensarmos que é um Português, e não um compositor com raízes Irlandesas, Inglesas, Francesas, nem qualquer outra origem europeia... Qualquer das suas criações são incontornáveis em qualquer parada, tatoo, circo, ou desfile que integre uma marching band, não só nos EUA, como em quase todo o mundo.
Mas o seu lugar na história e musicologia não se fica apenas por aqui, pois foi também o inventor de alguns instrumentos musicais, sendo o mais conhecido, e que transporta o seu nome, o Sousafone, que pertence à família dos metais (brass), e foi criado para reforçar (e substituir) o papel até aí desempenhado pela Tuba, que não detinha as características de intensidade no registo dos graves, necessárias para desempenhar eficazmente a emissão sonora das notas graves, nas condições acústicas existentes durante as marchas ao ar livre, nas ruas de uma cidade, por exemplo. Assim, aquele instrumento que dá umas voltas circundando o executante, antes de desembocar numa larga e circular campânula situada acima da sua cabeça, é o "souzaphone" de que falamos.
Deste modo, os Portugueses e a sua criação musical estão "gravemente" (tanto o bombo como o sousafone têm como função a marcação dos graves...) inseridos nas raízes de tipologias musicais bem populares e que não só estão na origem, como desempenharam um papel relevante para o desenvolvimento do samba, da bossa-nova, do ragtime e do jazz.








As nossas raízes culturais, e neste caso musicais, que são normalmente algo menosprezadas e ignoradas pelos Portugueses, merecem uma nova avaliação, 3 décadas passadas sobre a instauração da Democracia.
Existe um trabalho de divulgação e consciencialização a ser feito entre a população deste cantinho à beira mar plantado, que atravessa uma fase de uma certa quebra de auto-estima e descrédito acerca das suas potencialidades e papel na civilização humana. E, podem crer, nem sou propriamente o que se pode apelidar de um "patriota", mas penso que somos bem melhores do que este nosso povo de saudosistas e poetas se tem vindo, com o tempo, a convencer...




Rui Azul

4 comments:

Anonymous said...

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