14.10.05

Crítica do PÚBLICO (suplemento Y) 18/02/2005



RUI AZUL À Bolina pontuação: 7 \ 10
Eis um disco agradável, imaginativo, sugestivo e razoavelmente original no panorama das "novas músicas", tendência suave, da música portuguesa. Rui Azul, músico do Porto, realizou sózinho "À Bolina", um álbum de viagens, tema estafado quando os itinerários repetem as rotas do turismo. Não é o caso de "À Bolina". Azul, além de produzir e arranjar, toca saxofone tenor, sax MIDI, flautas, rhaïta, zummara, didgeridoo, darbuka, percussões étnicas, voz, teclados, samplers, sequenciadores, programação e "loops". Ah, sim, também foi ele que gravou, misturou, masterizou, fez o desenho gráfico, a BD os textos. "À Bolina" é um álbum de´boa fusão, entre jazz, "world" imaginária e electrónica sequenciada. Vozes deslocadas no espaço e no tempo, sons híbridos, batidas entre o computacional e o ritual. A escola é óbvia: Musci/Vennosta, Benjamin Lew, Steve Shehan. Mas Azul é bom colorista e sabe combinar os tons, dando de facto pistas para uma viagem interior que é afinal cinema da imaginação. As ilustrações de BD têm algo da "Garagem Hermética" de Moebius. Um passo à frente de Rão Kyao, Ficções e Carlos Maria Trindade/Nuno Canavarro na elaboração de fusões oníricas com âncora, mais ou menos funda, em Portugal.
Fernando Magalhães - discos\roteiro - Público - suplemento Y - 18 fev 2005