24.12.06

Cinco Minutos de Jazz

Se tiverem tempo (e se lembrarem), podem ouvir este vosso amigo "a tocar tenor & a falar com José Duarte" - foi este o "headline" por ele escolhido para abrir cada uma das 10 emissões do "Cinco Minutos de Jazz" que irão para o ar bi-diariamente (17.53h e 22.53h) de dia 8 até dia 19 de janeiro de 2007.

Nos dias pares ouvir-se-á o tal tenor num tema gravado ao vivo, nos ímpares falaremos do Jazz em Portugal, do seu ensino, do que tenho feito nos últimos 30 anos, do que espero e... do que desespero ao ver a lentidão com que o Jazz se vai construíndo, e a pouco e (muito) pouco se vai afirmando e ganhando um público crescente, sobretudo entre as novas gerações, o que é um bom indício, mas as carências ainda são esmagadoras.
A actual proliferação de festivais de Jazz, um pouco por todo lado, embora possa parecer um sinal inequívoco de evolução, não tem, no entanto, reais efeitos práticos e dinamizadores da vida jazzística nacional, no que se refere aos músicos praticantes, sejam eles estudantes, amadores ou profissionais.
Algum possível entusiasmo, gerado pela assinalável crescente afluência de público a esses festivais, esvai-se quando comparativamente observamos a escassez daquele que frequenta os ainda mais escassos clubes e bares-concerto que existem entre nós.
E, quer queiramos, quer não, são estes locais e o "circuito", à escala nacional, que eles formam (ou melhor, que ainda NÃO formam), que constituem a estrutura-base, a armação de suporte que pode permitir a vivência diária, semanal, do Jazz português, possibilitando a actividade permanente de músicos e bandas, seja em concertos aos fins-de semana, jam sessions de domingo a quinta, abrindo espaço para os que se iniciam ganharem "calo", para que haja interacção entre apreciadores(as), melómanos, recém chegados ao Jazz, público em geral, divulgadores, musicólogos, radialistas, fotógrafos, jornalistas, artistas, actores, produtores, sonoplastas... tanto entre si, como com músicos (e estes entre si).
Só essas situações, só esses ambientes podem fazer fermentar e evoluir o Jazz que se ouve e se pratica entre nós.
... o músico do Algarve vai tocar em Viana; o músico do Porto toca numa Jam em Coimbra, com músicos que aí residem; uma banda do Barreiro actua no clube de Matosinhos, e após os concertos juntam-se-lhes músicos do norte; o trombonista dinamarquês que tocou no festival de Aveiro ás 22h aparece "round midnight" no bar-concerto local e acontece inesperadamente uma sessão fabulosa, memorável para quem assistiu e participou; aquele pianista americano de renome foi levado por um membro da organização daquele outro festival ao Hot Clube de Viseu, onde por acaso estava o trio de um guitarrista de Lisboa, e, tendo o pianista apreciado tanto a experiência, convidou-os para gravarem 4 faixas do seu próximo cd....
Isto são exemplos virtuais do que eu considero ser um cenário dinâmico de uma actividade Jazzística actual, pelos padrões europeus.
Possível e realizável no nosso país também.
Existem os músicos para tal.
Portugueses.
Em quantidade e de qualidade indiscutível, pelos mesmos padrões europeus (e globais).
Acabe-se de uma vez por todas com a execrável falta de auto-estima endémica que levava invariavelmente a considerar-se que o "estrangeiro" é sempre melhor que o Português, porque... porque é estrangeiro...!!
Falta apenas (derivado à ausência de hábitos culturais enraizados entre nós, um dos muitos efeitos "colaterais" e de consequências à la longue, com que os 50 anos de estupidificação salazarista contaminaram este país e este povo...):
que o público não vá apenas aos festivais, que vá surgindo nesses locais, pois muitas vezes presencia espectáculos tão bons ou melhores que nos grandes eventos (por vezes sessões únicas e irrepetíveis...), favorece de uma proximidade muito maior com músicos, podendo mesmo conhecê-los pessoalmente, com menos custos económicos e com maior fruição e intensidade vivencial... (experimentem pelo menos 1 fim-de-semana por mês, em vez da disco & dance..)
Tudo razões a favor da escolha de clubes para assistir a Jazz ao vivo, sem falar da impossibilidade de se estar a saborear um copo ou de trocar alguns comentários com a namorada ou com os amigos, no festival num auditório de centro cultural...
Did it crossed your minds??
Venham lá mais vezes ao clube e Jazz bar!!
Se afluir mais público, mais clubes vão abrir, mais músicos vão poder trabalhar, melhor e mais Jazz haverá para ver e ouvir...


Não cheguei a conseguir dizer algumas destas ideias, cinco minutos vão-se a correr e nem damos por isso!
Mas falou-se de Jazz. A ideia era essa, I think... Gostei bastante. Penso que o José Duarte também.

Cinco Minutos de Jazz
Estação de rádio: RDP Antena 1
E-mail: cincominutosdejazz@rdp.pt
Horários: segunda a sexta - 17.53h e 22.53h
Autor: José Duarte
desde 8 até 19 jan 2007:
Convidado:
Rui Azul - saxofonista

14.12.06

"Simply Blues" nights...

Caso vos interesse, vou resumir o que foi acontecendo nas noites do festival.
Na noite de 4ª feira, dia 6 de Dezembro, coube-nos - Minnemann Blues Band - abrir as "hostilidades", estreando a nova formação, que integra agora o trompetista cubano Alex Rodriguez, e penso que tivemos uma excelente interacção com o público, que compareceu de modo a ocupar talvez 60% da capacidade do Teatro Sá de Miranda, facto que no entanto, não impediu os presentes de se divertirem, como por exemplo no tema que começou com uma introdução de sax "à capella", no qual apareci vindo da última fila da plateia, segui pela coxia central, sentei-me numa das cadeiras, aproveitei para inserir a melodia do malhão no "discurso"(em homenagem ao Minho e a Zé Pereira, alfaiate, minhoto e tocador de bombo. Sim, porque nem bombeiro nem bombista soa bem... - conto essa estória um dia destes), e isto sempre acompanhado pela marcação rítmica do público, que o fez no sítio correcto (o Cenoura ajudou, indicando-lhes onde era que deviam bater as palmas...), subi para o palco sem parar de tocar e finalizamos com "Relax Your Mind". Regressamos para 2 encores, com o entusiasmo do público sempre em crescendo.
Na noite seguinte, 5ª, Louisiana Red (an old-timer bluesman) trouxe-nos a tradição do delta, sentado na sua cadeira, que os anos já pesam e o jetlag também... No final grande parte do público saía do Teatro directamente para o Café-concerto por uma porta de acesso e por volta da meia-noite e meia ('round midnight...) começàvamos a tocar, para acabar... entre as 3 e as 4, porque o entusiasmo dos presentes impelia-nos a continuar. Apenas nessa noite de 5ª, não houve jam session com os músicos que actuavam no Teatro (talvez pelas razões que referi acima), mas na sexta, a loiríssima Ana Popovic fez questão de tocar connosco, e fazendo concentrar todos os olhares sobre o seu belo e desnudado umbigo que se vislumbrava logo abaixo do corpo da guitarra, tocou alguns blue-rock (sobretudo em Mi7) e dirigiu-se a mim para que eu improvisasse com ela, e assim solamos, sax e guitarra, alternando de 4 em 4 compassos... Acontecia, finalmente, Jam Session, no 7º Festival Simply Blues! Ana Popovic, de Belgrado, fez questão, antes de abandonar o palco, de incentivar o público para que nos aplaudisse intensamente: -" Congratulations, you people got these really fantastic musicians in your own country, so give them a big applause, 'cause they deserve it!...".
Curiosamente, na noite seguinte, o mesmo sucedeu com Sherman Robertson, bandleader, guitar player, afro-american (como se diz nos EUA) & bluesman, exibindo um chapéu de cowboy (daqueles com o topo plano e com chapas ovais de metal dourado a decorar a fita do chapéu) e um bigodinho à Clark Gable. Depois de actuar no teatro, também fez questão de tocar connosco, após ouvir-nos durante alguns temas. Após ele ter tocado um blues em Mi, pedi-lhe que escolhesse outro tom para os temas seguintes (é que para o saxofone tenor, um blue em Mi significa ter que improvisar em Fá sustenido, pois o tom de guitarra ou piano, o "concert key" tem de ser transposto dois meios tons acima, no caso do tenor e do soprano. Claro que consigo solar em Fa#7, mas a dedilhação é mais "chata", logo existe menos fluidez no fraseado...), e assim seguiram-se em C7 e A7 (Ré de 7ª e Si de 7ª para mim) mais dois temas, e, tal como a Popovic, também ele me "desafiou" para solar em diálogo, e penso que me safei de modo a... "defender honrosamente o prestígio dos músicos portugueses" (...vá lá, não gozem, pois foi mesmo assim que algumas pessoas se expressaram, enquanto me davam os parabéns no final...).

Levamos a assistência ao rubro, os flashes sucediam-se, junto ao palco dançava-se, os gritos de aprovação e incitamento não abrandavam, e, igualmente, ele insistiu para que o público acarinhasse os seus músicos, ou mais concretamente, o António Mão de Ferro na guitarra, o Rui Cenoura na bateria, o ManuZé no baixo, o Wolfram Minnemann ao piano e voz (vive entre nós à tanto tempo que já o definem como... luso-germânico...), e um tal de Rui Azul no sax (este vosso amigo)...
Membros da organização, espanhóis com largo historial em organização de concertos, nas áreas do Jazz e Blues, referiram que não só fomos a banda portuguesa com melhor prestação, no conjunto dos 7 anos de edições do festival, como uma das bandas que obtiveram mais adesão do público, a nível global de todas as actuações, tanto de nacionais como de estrangeiros. Bem, também acho que estivémos particularmente inspirados, e demos "o litro", mas essas apreciações são sempre muito subjectivas, vindas dos próprios intervenientes, só que desta vez toda a gente foi unânime, inclusivé músicos das bandas americanas...
Espero que isto possa vir a ser um sinal de mudança na mentalidade do público português, que ao contrário do que acontece com os naturais de outros países, NÃO "torce" pelos seus compatriotas artistas e músicos, chegando até a estabelecer o preconceito de que qualquer músico estrangeiro é sempre melhor do que um músico português, ...apenas....porque é estrangeiro!! Mas só admitem o contrário, se, e só se, forem os "estrangeiros" a afirmá-lo!
Por fim, quero ainda destacar o trompetista cubano Alex Rodriguez, que se estreou (e bem) na Minnemann Blues Band neste festival.

Obrigado por me aturarem e desculpem algo que vos possa parecer... alguma "imodéstia", da minha parte, mas é sempre agradável que, quando um músico toca bem, haja quem dê por isso... Rui Azul